A ciência já comprovou que o ser humano é o único animal que se acha capaz de sobreviver a um eventual apocalipse. Enquanto os dinossauros prontamente se resignaram com a Era Glacial, o homem se acha a última barata da crosta terrestre em seus filmes e séries apocalípticas onde sempre tem um rostinho bonito sobrevivendo ao que vier, de tsunamis globais e meteoros em colisão com a órbita terrestre a hordas de zumbis – passando por tornados de tubarões.
Mas a verdade é que a maioria de nós, delicados seres criados em condomínios a base de leite de pêra, não teríamos disposição de encarar as dificuldades mais singelas e não sobreviveríamos nem a uma semana sem internet, quanto mais sem alimento – ou papel higiênico de dupla maciez. Numa aventura eventual extrema, perdido no mato sem cachorro, fica difícil acreditar que duraríamos meia hora antes de borrar as calças. Os protagonistas de filmes (pelo menos os que sobrevivem no final da trama) geralmente têm um grau de destreza e sagacidade acima da média ou tiveram formação militar avançada, mas pessoas comuns como eu ou você não costumam durar muito nas mãos da natureza selvagem.
Como diz o velho deitado ditado, pra morrer basta estar vivo. E cautela nunca é demais – especialmente se você curte viagens ousadas e locais ermos.
Pensando em não perder parte da nossa audiência decidimos trazer um pequeno guia imperativo com 10 dicas para os leitores do TRETA aprenderem a sobreviver a qualquer custo em situações extremas. É óbvio que todas as sugestões só devem ser usadas como último recurso (ao persistirem os sintomas um médico deverá ser consultado) mas na hora que o bicho pegar você vai querer ter tomado nota mental:
1. Procure por ajuda
A essa altura eu quero acreditar que tentar contato com o mundo exterior seja a primeira e imediata providência de alguém potencialmente em perigo, mas não custa reforçar.
Ao se jogar numa aventura, é evidentemente importante ter certeza de que alguém sabe pra onde você está indo – e quando pretende retornar. Nada de falar que vai comprar cigarros na esquina e sumir sem deixar rastros. Caso você seja tão solitário e anti-social que não tenha nenhum parente, amigo ou vizinho pra sentir sua ausência, contrate uma garota de programa para tal finalidade. Se algo der errado, esta pessoa será sua maior chance de sobrevivência, alertando as autoridades competentes para um resgate. Em certos ambientes mais hostis, como um deserto, não há muito o que fazer além de rezar e esperar por socorro – na sombra, claro.
Outra decisão inteligente é deixar marcas pelo caminho para que alguém possa seguir sua trilha, especialmente porque esse alguém pode ser você mesmo, andando em círculos. Pra ser notado à distância o ideal seria um sinalizador, mas na sua ausência o efeito pode ser buscado com fogueiras e até mesmo recados – como o famoso "S.O.S." – podem ser escritos com pedras e galhos em locais visíveis.
Mas a ferramenta mais relevante, que pode ser crucial numa aventura menos distante das redes de telecomunicações é mesmo o aparelho celular. Ou melhor: a bateria dele. Os números de emergência costumam ter acesso facilitado nos atalhos de todos os modelos mais comuns, mas lembre-se de ser objetivo e eficaz na sua comunicação para a ligação não ser cortada no meio do epílogo da sua narrativa – em que você dá uma explicação prolixa sobre como foi parar ali.
Caso a bateria esteja sobrando e você já tenha ligado pra polícia, bombeiros, SAMU, guarda florestal, Ibama, Rotary Club, Disque Pizza, Disque Amizade e até pra sua tia que mora no interior do Maranhão (pra contar que está perdido num lugar ainda mais inóspito que o interior do Maranhão), outra boa dica é aproveitar para testar os maravilhosos serviços do Disque Sobrevivência, pelo número (11) 3511-2910 – ligue djá!
O primeiro serviço gratuito de apoio a pessoas em situações extremas fornece dicas dos maiores especialistas em sobrevivência selvagem pra você saber como agir na hora "H".
2. Busque conhecimento
Na verdade o serviço de orientação por telefone mencionado acima é uma das ações promocionais criadas pra chamar atenção ao lançamento do novo programa do Discovery, "Sobrevivendo com Bear Grylls", em que o desmiolado destemido aventureiro "à prova de tudo" vai encarar as situações mais extremas já enfrentadas por pessoas comuns, de desertos escaldantes e florestas amaldiçoadas a montanhas geladas e tempestades de neve, demonstrando o que é preciso fazer pra conseguir voltar são e salvo à civilização (ou a qualquer outro local seguro, quentinho e confortável).
A campanha também distribuiu anúncios impressos que podem ser utilizados de verdade numa emergência, (dependendo do modelo) como cantil, lanterna fluorescente ou repelente de insetos, e ainda tem esses potes de petiscos saborosos e nutritivos pra degustação. Tudo pra você entrar no clima… do desespero!
Quem curte essas aventuras radicais no MODO FUCKING HARD, mesmo que não pretenda se perder sem bússola por aí tão cedo, pode aprender muito na série com as experiências e dicas alheias (muito além da listinha básica desse post). Bom pra ficar esperto e não dançar o quadradinho de oito na primeira dificuldade da vida.
Não perca a estreia nessa próxima terça-feira, dia 29/10, às 22h30, no Discovery!
3. Oriente-se
Em tempos de GPS e mapas online pra facilitar a vida de todo mundo é difícil imaginar o que fazer no caso de ficar perdido sem esses recursos. Se der pra esperar o nascer ou pôr-do-sol você pode descobrir a direção do leste e oeste, mas nem sempre o tempo vai estar sobrando. Fome, sede, e as adversidades do ambiente podem exigir uma providência rápida.
Uma dica pra se localizar minimamente no espaço é improvisar uma bússola com qualquer relógio de ponteiros. Se estiver no hemisfério sul, segure o relógio horizontalmente e aponte-o de forma que o 12 esteja voltado diretamente para o sol. O ponto médio entre o 12 e a marcação do ponteiro das horas será a direção do norte.
Outra dica marota pro caso de estar perdido em um local de vegetação densa, como selvas tropicais, é subir em uma árvore o mais alto possível para obter uma melhor visão acima da floresta. Fique atento aos pontos de referência marcantes para ajudar você a se situar e caso perceba algum desnível ou depressão na vegetação, pode ser indício da existência de um rio, o que significa que a civilização também não está longe.
Antes, contudo, é bom se beliscar algumas vezes e tentar analisar friamente se você está perdido nesta dimensão física mesmo ou foi parar em algum universo alternativo como a ilha de Lost. Aprendi depois de umas 50 temporadas da série que todo esforço será inútil se você já tiver morrido e estiver apenas tendo alucinações no purgatório.
4. Encontre sombra e água fresca
Esse parece ser o objetivo de vida da maioria das pessoas, e não só daquelas em situações extremas, mas as maiores ameaças de sobreviventes costumam mesmo ser a insolação e a desidratação, que podem matar muito rapidamente. Antes de tudo, portanto, proteja a cabeça do calor e a pele do sol com algum material de cor clara que sirva de touca ou similar.
A água é sempre o recurso mais valioso para a sobrevivência e para encontrá-la é preciso estar atento a indícios como ruídos, umidade do ar e existência de vegetação, que indicam a proximidade de recursos hídricos. É essencial tentar encontrar água corrente, pois é muito provável que a água parada esteja contaminada por animais mortos e outros detritos.
Esqueça aquelas forquilhas rastreadoras feitas de galho de madeira que você vê na ficção e em manuais dados a essas crendices populares, a ciência ainda não conseguiu comprovar a presença de magnetismo nos lençóis freáticos, ou a eficácia do instrumento. É mais fácil olhar pra cima: muitas vezes o orvalho se acumula nas folhas das árvores e plantas durante a noite, bem como as gotas retidas de chuva, e isso pode ser a sua salvação caso a sede esteja desesperadora.
É possível também se obter água diretamente a partir do solo. Você vai precisar de uma lona ou um pedaço de plástico e um recipiente qualquer para recolher a água evaporada da terra. Cave um buraco num local que receba luz solar direta e estenda a lona sobre a abertura, prendendo-a com troncos, pedras ou qualquer peso disponível sobre as extremidades. Também é importante deixar algumas pedrinhas no meio da lona, para fazer peso em um ponto central. Quando o sol bater na lona, o ar preso dentro do buraco irá se aquecer e evaporará a umidade na terra. Conforme a umidade aumentar, condensará na parte inferior da lona, escorrendo para seu ponto mais baixo (existente graças às pedrinhas). Qualquer objeto no chão logo abaixo deste ponto do buraco pode ser usado pra capturar a água destilada pura, uma vez que ela começar a gotejar.
5. Invente o fogo
Sua aventura pode evitar os maiores clichês da ficção se você tiver um fósforo ou isqueiro por perto (taí a única vantagem competitiva de fumantes na natureza). Caso contrário, esqueça os movimentos com gravetos aprendidos na Sessão da Tarde, a forma mais eficaz de conseguir provocar uma chama com pedaços de madeira é produzindo atrito entre eles como ensinado nesse vídeo.
Outra solução é posicionar uma lente de aumento e utilizar a luz solar para produzir a queima de algum material combustível. Se você não for o Sherlock Holmes e estiver sem sua lupa de bolso em um deserto de gelo, por exemplo, não se desespere. É possível improvisar uma lente de aumento, esfregando um pedaço de gelo em torno de uma borda de um tubo qualquer. A extremidade circular do tubo vai esculpir as irregularidades do bloco, e talvez você consiga obter uma esfera de gelo que possa funcionar como uma lupa, captando a luz do sol e a concentrando em um ponto, que se estiver focado em algo seco e inflamável irá produzir uma chama.
Para evitar chamar atenção de predadores ou enfrentar condições de muito vento, a solução pode ser fazer o fogo dentro de um buraco. Basta cavar dois poços lado a lado no chão, com um túnel conectando-os. A fogueira estará bem protegida em um dos poços e o oxigênio entrará livremente pelo outro através do túnel.
6. Aprenda a pescar
Se você estiver perdido numa selva tropical, nem gaste energia caçando animais ou preparando armadilhas, opte pelas muitas plantas comestíveis ao redor – obviamente é preciso saber identificá-las para não sair mastigando qualquer veneno por aí.
Caso seja possível encontrar um rio, lago ou outro corpo de água, saiba que lá dentro estará sua refeição do dia. Quem não sabe como pescar ou estiver sem nenhum equipamento pode resolver a parada com uma simples camisa e… saliva. Use sua camisa improvisando uma rede sob a superfície da água e cuspa nela. Peixes pequenos serão atraídos pelo cuspe, achando que é comida, e quando eles se agruparem você estará esperto para puxar a camisa e capturá-los. Se não quiser beliscar o aperitivo rápido você ainda pode tentar usar os peixinhos como isca para pegar peixes maiores (cuidado com o olho gordo pra não ficar sem nada).
Uma dica extra importante é lembrar de eliminar todas as sobras de alimentos para não correr o risco de receber visitas famintas da fauna da região.
7. Monte acampamento
Se você sentir que vai precisar se estabelecer por algum tempo em um local, seja para descansar, esperar o resgate ou passar uma noite seguro e aquecido, o jeito é tentar improvisar um abrigo. Caso você não tenha em mãos uma lona ou material similar, um tronco escorado em uma árvore ou uma pedra pode ser utilizado para apoiar galhos, folhas e arbustos num abrigo improvisado.
Ficar perto de uma fonte de água pra economizar tempo e energia durante o dia pode ser uma boa ideia, mas lembre-se de que estes locais são território de mosquitos por natureza. Além disso o chão ao seu redor costuma ser muito úmido e exposto a inundações. Em qualquer caso, como o chão limpo absorve o calor do corpo, você vai precisar forrá-lo com folhas.
O ideal é encontrar um local alto, seco e plano, de preferência que ofereça um isolamento natural contra o vento. Em selvas mais densas é preciso se preocupar com a queda de árvores e galhos (os maiores causadores de mortes nestes ambientes) e dar preferência a clareiras para montar o acampamento.
E, claro, depois de começar a construir seu abrigo, você não vai poder mudá-lo de lugar, por isso, escolha com muito cuidado.
8. Caça ao tesouro
Aqui vai um truque que pode ser usado mesmo em situações cotidianas (como aquele molho de chaves perdido no quintal), mas não deixa de ser uma engenhoca valiosa para encontrar ferramentas úteis à sobrevivência, um verdadeiro tesouro que pode estar escondido bem debaixo dos seus pés.
Para improvisar um detector de metais você vai precisar de um rádio portátil e uma calculadora de bolso. Coloque o rádio em AM e ajuste-o para uma frequência que não pegue nenhuma estação (quanto maior a frequência, melhor). Aumente o volume do rádio pra perceber melhor o som da estática, pegue a calculadora (ligada) com a outra mão (ou um suporte articulado como uma capa de CD) e posicione de frente para o rádio, alterando a distância e o ângulo entre eles até perceber um leve zumbido. Ao passar o "aparelho" sobre o solo, todo metal enterrado relativamente perto da superfície irá aumentar o som emitido. Depois dessa, Tony Stark que se cuide.
9. Esqueça o nojinho
Situações extremas exigem que você mantenha-se calmo, alerta e use o bom senso. Como já foi dito, se ficar perdido, tente orientar-se antes de continuar. Se estiver cansado, descanse. Se tiver fome, portanto, procure encontrar alimento. Achar que dá pra segurar a onda por preguiça ou medo de se aventurar no cardápio selvagem pode ser um erro fatal.
Um dos momentos mais tensos das histórias de sobreviventes é a hora em que você se vê obrigado a comer coisas nojentas pra não morrer de inanição. E como saco vazio não para em pé, esteja psicologicamente convencido de que tenébrios, formigas, baratas, moscas e larvas são excelentes petiscos crocantes para forrar o estômago e repor os nutrientes gastos na luta pela sobrevivência.
10. Esteja sempre preparado
Depois de ler nossas dicas e entrar no clima de aventura selvagem, eu tenho certeza que você vai querer tomar umas precauções extras antes da sua próxima viagem. Pesquisar o destino antes de embarcar, consultar mapas, estudar a fauna e a flora são fundamentais, bem como não esquecer de levar equipamentos e suprimentos adequados .
Calma, não precisa encher sua mochila com provisões para atravessar uma guerra nuclear, mas num eventual perrengue você vai desejar ter lembrado de trazer os mais singelos objetos, como um canivete, um isqueiro ou uma barraca de camping de luxo. Caso seu inventário não seja dos mais completos, objetos e utensílios do dia-a-dia podem quebrar um bom galho. Essa é a hora de deixar fluir o MacGyver que há dentro de você!
Absorventes íntimos internos, que aparentemente não teriam outra utilidade a não ser aquela para a qual foram fabricados, podem ser muito úteis para improvisar uma boia de pesca, por exemplo. Sem falar que o algodão contido em seu interior pode ser usado para iniciar uma fogueira, filtrar resíduos da água ou, no mínimo, fazer um curativo para cortes e arranhões.
Outra tecnologia inusitada é o plástico bolha, que fornece um excelente isolante térmico para manter uma pessoa aquecida, mesmo exposta ao vento e à chuva. O difícil é resistir à tentação de sair estourando as bolhas em caso de tédio ou estresse emocional…
Achou que ia se dar bem na viagem e a única ferramenta útil para sobreviver que você lembrou de trazer foram várias camisinhas? Tudo bem! Preservativos podem ajudar a conseguir água, fogo, comida e abrigo (os quatro elementos-chave da sobrevivência). Pra começar, os preservativos são bons recipientes de armazenamento de água, dois ou três cheios fornecem água suficiente para uma pessoa durante uma semana. Como são à prova d’água, também podem ser usados para transportar com segurança qualquer coisa que precise ser mantida seca. Além disso, um preservativo de látex pega fogo instantaneamente, tornando-se perfeito para começar uma fogueira. E você ainda pode usar o preservativo como "corda" para amarrar uma lona e formar uma cabana, ou até pra improvisar um estilingue e caçar pequenos animais. E você achava que sabia tudo que era possível fazer com uma camisinha…
E, uma última dica final-bônus-extra-plus que vale para situações extremas de todas as naturezas, com eficácia atestada por quase todas as entidades, doutrinas religiosas e correntes filosóficas: pensamento positivo sempre ajuda (ou pelo menos, não atrapalha).
Ao observamos grandes histórias de sobrevivência, podemos perceber que as pessoas que conseguiram vencer situações aparentemente impossíveis, se esforçam ao máximo para alcançar o extraordinário.
Nunca subestime a sua capacidade – e o seu instinto de sobrevivência.