Há uma meia dúzia de anos atrás eu tinha um plano de celular que custava uns cento e poucos reais e me proporcionava, além de ligações, interurbanos e torpedos que eu nunca teria saco pra gastar, internet ilimitada. Mesmo com a cobertura da rede 3G sendo motivo para piadas e ataques do coração, definitivamente, “eu era feliz e não sabia”.
Quando eu mudei de estado e precisei de um número local, a tragédia: seria necessário um novo contrato e não havia mais nenhum plano com internet ilimitada. De um dia para o outro, passei a conviver com o inferno da famigerada franquia, que mesmo sendo das mais caras nunca dá nem pro começo.
Cansado do ciclo interminável de esperar o vencimento para usar toda a minha cota mensal de internet nos dois ou três primeiros dias, decidi promover meu próprio boicote particular, e adotei o “pré-pago” como filosofia de vida. Menos é mais. Na rua, usando o 3G, só o GPS, o aplicativo do banco e as redes sociais da promoção da operadora. Todo o resto fica pra quando tem o Wi-Fi.
Pois é, tinha.
Como todos já devem estar carecas de saber, o presidente da Anatel acha que o brasileiro está usando internet demais. Até concordo, acho que algumas pessoas estão precisando mesmo tomar um sol e pegar uma corzinha, pra variar. Mas não precisa ser muito esperto pra entender que trata-se de (mais) um golpe na democracia.
E mesmo com as operadoras “voltando atrás” e anunciando a possibilidade de novos contratos sem franquia de internet, já sabemos quem é que vai pagar o pato gigante inflável…
Sem mais delongas, em clima de despedida, vamos à nossa lista com as 10 melhores maneiras de gastar sua conexão enquanto sua internet fixa ainda é ilimitada (com todos os devidos links necessários pra você falir as teles com seu mouse):
1. Fazer maratona de séries no Netflix
Na mira das leis de todo o mundo por revolucionar o mercado televisivo, o serviço de streaming de filmes e séries vermelho é que deveria ser chamado de Second Life. Provando que a “locadora Torrent” só é uma opção quando não existem alternativas viáveis disponíveis, milhões de cidadãos engajados no bem comum consomem diariamente muitos Gigabytes de banda larga em maratonas épicas de séries como as aclamadas Breaking Bad, House Of Cards, Mad Men, Sons Of Anarchy, The Walking Dead, Homeland, How I Met Your Mother e Orange Is The New Black; as iniciantes Narcos, How To Get Away With Murder, Sense8, Jessica Jones e Demolidor; e a minha favorita Black Mirror (comece por ela), fora outras gastações eternas como Family Guy, The Office, Weeds, Modern Family, House… No dia que tiver Game Of Thrones vai chover white walker nas operadoras de internet!
Agora, se você já assistiu tudo que eu mencionei acima seu link é esse: Z Nation.
2. Treinar para ser um campeão de eSports
Foi-se o tempo em que os pais sonhavam que seus filhos seriam astros do futebol. A nova geração de “atletas” celebridades veio para provar que passar horas ininterruptas jogando online pode não ser um completo desperdício de vida. Ao contrário do que pensa o presidente da Anatel, jogar League of Legends não é coisa de nerd virgem sem vida social, mas coisa de nerd virgem sem vida social milionário!
Não vou mentir pra vocês, além dos clássicos antigos e do GTA de sempre, não me aventuro muito na jogatina online, mas volta e meia gasto um tempinho descobrindo pérolas como Super Hot, On The Run, Ski Safari, e Soccer Physics.
Ou faço como o presidente Underwood e jogo um pouco de Agar.io pra desestressar da crise internacional.
3. Conhecer garotas desinibidas pela webcam
Como mencionamos em nosso último e esclarecedor artigo 10 tecnologias que melhoraram o sexo, no moderno mundo contemporâneo, solidão é opcional!
Em sites como o Câmera Privê, maior serviço do segmento em atuação no Brasil, você pode conhecer as mais gostosas camgirls (moças pra lá de desinibidas na webcam), como a ex-BBB Clara Aguilar. Utilizando o mouse com apenas uma das mãos, você pode assistir a shows online exclusivos, interagir à vontade e até partir pro sexo virtual!
Sem falar que você também pode satisfazer sua curiosidade conhecendo, por exemplo, um casal trans “invertido” ou uma anã ninfomaníaca.
4. Descobrir músicas com as playlists do Spotify
Nossos antepassados e muitos de nós mesmos já passamos perrengue pra conseguir ouvir nossas músicas preferidas. Além dos discos de vinil com seus chiados e péssima usabilidade, a alternativa para a maioria era gravar fitas-cassete com os sucessos (e as vinhetas sobrepostas) do rádio. Com o tempo, nem mesmo os modernos CDs, DVDs e arquivos em MP3 para download foram mais revolucionários e efetivos que os serviços de streaming de áudio, com a premissa de levar a música onde você estiver.
Contudo, agora que temos acesso a praticamente todo o acervo musical do planeta, um novo problema surgiu: como decidir o que ouvir dentre tantas opções?
Para atender a esta nova demanda e também permitir que seus usuários descubram novos sons, o Spotify oferece as mais inusitadas e contextualizadas playlists musicais, como: “Cure Sua Ressaca”, “Churrasco, Piscina e MPB”, “Guilty Pleasures”, “Supernerd”, “Pop no trabalho”, “Divas no trânsito”, “Treino Anos 80”, “Bring Back the 90s”, “Correndo à Brasileira”, “Songs to sing in the shower”, “Faz meu milho virar pipoca” e “Não sou louco, só toco AirGuitar”.
Se você ainda não atingiu esse nível de esquisitice, pode conferir as listas mais bombadas!
5. Mergulhar na programação do YouTube
Sério, pode aposentar a televisão! Pelo menos enquanto a internet for liberada, você sempre terá muitas horas de conteúdo interessante pra assistir online. Sabendo procurar, com o tempo, nem vai dar falta da antiga programação convencional operada por controle remoto. Vídeocassetada? Que nada! Você pode colocar as mágicas palavras “FAIL” + “COMPILATION” na busca e ser feliz eternamente rindo da desgraça alheia. E o melhor de tudo: sem a narração do Faustão!
Se você quiser saber mais sobre as principais atrações nacionais, há poucas semanas listamos nosso TOP 10 melhores canais brasileiros do YouTube, com recomendações imperdíveis pra começo de conversa, e eu não posso deixar de sugerir também alguns dos canais que particularmente têm me dado mais alegrias a cada notificação de vídeo novo: PC Siqueira, Jout Jout, Cauê Moura, Cid Cidoso, Rafucko, Mandy Candy, Pirula, Guilherme Afonso, Gaveta, Brogui, Jacaré Banguela, Amigos do Fórum, Omeleteve, Parafernalha, Porta dos Fundos, e – claro – os maconheiros do Um Dois.
Precisa escolher onde começar? Se joga no Nerdologia! (E depois já vai conferir o novo vlog 360 graus no canal do Jovem Nerd…)
6. Trocar nudes no Snapchat
Não se faça de desentendido(a). A gente já te viu sem roupa no “Snap” – só não printamos porque somos legais.
Apesar das dificuldades em entender os bizarros menus e funções do aplicativo, não é difícil entender o sucesso da ferramenta entre os millenials. Na verdade nem é preciso aprender muitos truques ou caprichar no filtro para fazer uso de sua principal utilidade.
E apesar de sermos veementemente contrários, tem gente que usa o Snapchat pra outras coisas além de mandar “nudes”, como a gatíssima Thaynara O.G., fenômeno recente.
7. Ouvir todos os podcasts possíveis
Ainda não inventaram o teletransporte (não, teletransporte de partículas subatômicas não conta), mas já é possível providenciar distração e informação quase infinitas para suas viagens intermináveis com algumas boas horas de episódios de podcasts, que você pode baixar para o celular ou ouvir diretamente da sua internet fixa ilimitada.
Para facilitar o meio de campo e ter acesso aos episódios assim que são publicados, você pode utilizar um aplicativo agregador de feeds de podcasts, como o nativo do iOS, o Addict para Android e o WeCast, para ambas plataformas. A maioria dos podcasters brasileiros também disponibilizam link para download em mp3 e streaming direto de seus sites.
Mas o problema persiste: o que ouvir? Seguem alguns dos meus títulos favoritos para você começar sua maratona auditiva: Nerdcast, Braincast, Anticast, Projeto Humanos, Não Ouvo, Decrépitos, Mamilos, Bada Bing, Mupoca, Pouco Pixel, Grande Coisa e Sem Crise.
8. Criar e distribuir o seu próprio conteúdo
Além de todos os conteúdos que sugerimos para você consumir online, o contrário também sempre pode acontecer… Se você for um “creator”, produtor de conteúdo, mais do que nunca, a hora é essa de publicar tudo que der na telha!
Nunca pensou em ser uma webcelebridade? Pois crie logo sua conta no Twitter, Instagram, Facebook e YouTube. E não esqueça de registrar o seu próprio domínio para o futuro site oficial da nova estrela internacional da grande rede mundial de computadores: você!
9. Procurar informações em fontes diferentes
No conturbado cenário político atual gastar um pouco mais de internet para consultar fontes diversas e checar a veracidade dos fatos antes de compartilhar notícias, opiniões e denúncias pode ser a sua melhor chance de evitar passar recibo de idiota nas redes sociais.
A equação é simples: se você só está acostumado a se informar pelos veículos do PIG mais tradicionais, como G1, Folha, Estadão, Veja e etc., procure também acompanhar as manchetes nas publicações alternativas e progressistas, como a Carta Capital, a Revista Fórum, o Brasil Post e o excelente Jornal Nexo. E vice-versa. Também vale acompanhar a visão dos noticiários internacionais, como a CNN, BBC e El País, e o próprio Observatório da Imprensa.
Além disso, cuidado para não alardear como novidade uma notícia velha, com circunstâncias que já mudaram. Desconfie se o URL for de um site que você nunca ouviu falar. Desconfie ainda mais se o link veio compartilhado daquela sua tia que acha que pode salvar crianças africanas da inanição compartilhando postagens na internet.
E não deixe de consultar o Sensacionalista para não ser feito de pato (ainda mais).
10. Discutir política no Facebook
Pois é. Nestes tempos em que opiniões andam sendo desferidas como socos e a polarização colocou a todos no meio de um aparente “Fla-Flu” ideológico, nossa última dica pode parecer um contra-senso. Contudo, por mais que a gente se aborreça e eventualmente se exaspere, não existe outro caminho que não passe pelo diálogo, pelo debate, e pelas mobilizações, online e offline.
Tomando cuidado para não ofender pessoas ao invés de refutar suas ideias, e mantendo o respeito até as últimas consequências, temos mais é que consumir toda a internet disponível para tocar no tabu, ou então estaremos mesmos condenados a uma internet – e uma democracia – limitada por interesses que não são os nossos.
E se alguém reclamar que você anda postando sobre política demais, diga que Bertolt Brecht mandou um beijo e a frase: “O pior analfabeto é o analfabeto político.”
Com as sugestões acima e um plano de internet fixa ilimitado, a felicidade geral da nação está garantida! Menos pra quem está mais preocupado com os lucros das operadoras…