Há muito tempo convivemos com uma pororoca diária de “choque de cultura” na internet. As pessoas, que viviam em suas bolhas pessoais, foram superexpostas à diversidade.
Quando uma comunidade online ou rede social se expande, deixa de ser exclusiva de um nicho de nerds pioneiros, e passa a ser utilizada pelas massas, ocorre um estranhamento natural dos hábitos, comportamentos, linguagem, e da própria forma como os novos membros usam a ferramenta.
Um fenômeno que até hoje ainda é chamado pejorativamente de “orkutização”, ou se identifica no meme “maldita inclusão digital”.
Mas afinal… “Estão estragando o Twitter”? “Os grupos de Whatsapp são o maior problema da vida moderna”? “O brasileiro é a maior praga da internet”?
Ou será que é apenas o nosso elitismo e falta de perspectiva berrando preconceitos como se já não tivéssemos discutido isso ontem após o jantar?
O buraco é muito mais embaixo: segundo um levantamento realizado no ano passado, 46% das residências do país ainda não possuem acesso à internet. Privilegiados e alienados que somos, muitas vezes consideramos nossa realidade e nossos “círculos” como parâmetros universais, mas quase metade dos brasileiros sequer podem participar da conversa.
E isso sem contar a parcela de domicílios com acesso precário ou limitado à internet.
A maioria desses que permanecem “desconectados”, como era de se esperar, vivem nas periferias das grandes metrópoles, ou em áreas rurais no interior do Brasil. Regiões desassistidas pelo Poder Público, privadas de infraestrutura, segurança, saúde, educação… e também de informação, cidadania, dignidade.
Uma situação que se agravou ainda mais com os constantes cortes de orçamento direcionados ao Ministério de Ciências, Tecnologias, Inovações e Comunicações, e com o fracasso dos programas e as medidas adotadas pelo governo, como o Programa Nacional de Banda Larga e o Internet Para Todos.
Soma-se a este problema, a atuação comercial dos principais provedores de acesso à internet do país, muitos dos quais oferecem planos que desrespeitam algumas das garantias básicas afirmadas pelo Marco Civil da Internet, pra não mencionar cartelização, oligopólio, etc.
O acesso à internet é um serviço essencial e básico de cidadania, reconhecido pela legislação brasileira desde a aprovação do Marco Civil da Internet em 2014.
Entre memes e discussões políticas, mal percebemos as funções sociais primordiais da rede, como se comunicar com familiares e amigos, acessar documentos e serviços públicos online, procurar emprego, etc.
Em abril de 2018, várias entidades se uniram para lançar a campanha Internet Direito Seu, que tem como objetivo universalizar o acesso à internet em todo o país e chamar a atenção para o fato de que uma grande parcela dos domicílios brasileiros não possuem uma conexão de qualidade.
Entre as propostas, pressionar as autoridades a oferecer internet gratuita em praças e outros ambientes públicos, além da criação de centros de inclusão digital, ampliando assim a igualdade no direito à internet entre pessoas de diferentes camadas sociais.
E o reflexo da democratização do acesso aos meios de informação, como já vem sendo comprovado, ao contrário do que pesa a expressão “orkutização” supramencionada, é extremamente positivo e pode ser percebido em diversos exemplos que podemos ver diariamente – adivinha? – na internet.
A internet livre possibilita um professor incentivar seus alunos a criar um canal para discutir filosofia no YouTube. Permite que um aplicativo reduza o custo de uma consulta médica eliminando intermediários entre médicos e pacientes. Que idosos se conectem com seus hobbies e parentes, de seus lares ou asilos para o mundo. Que sobras de comida que iriam pro lixo se conectem com associações de combate à fome. Que doadores de sangue se conectem com pessoas que estão precisando com urgência.
Através da internet, livre, pessoas podem reunir esforços para ajudar outras em situações de injustiça, ou necessidade extrema. Podem reunir recursos para viabilizar projetos que sem essa vitrine jamais existiriam. Podem se reunir em torno de causas relevantes.
Ou simplesmente rir de um vídeo, um viral, um meme. Quiçá, um mene.
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