Se a internet não perecer em meio a uma crise internacional sem precedentes ou até mesmo uma guerra nuclear destruindo os backups do TRETA e de todo o lixo que se publica na web, gostaria de deixar aqui uma carta não-solicitada aos jovens pesquisadores e historiadores dos próximos séculos (ou seja, um “spam baiano”), para documentar os meandros de sustentação do status quo no ano de 2008 através de uma falseta genial denominada “Democracia” (nome do sistema político utilizado nos principais países do planeta, creio eu, até meados do século XXI).
Nestas últimas eleições os resultados de apuração das urnas deram uma bela aula de como o nosso auto-proclamado maravilhoso sistema de votação popular obrigatória através de urnas eletrônicas serve convenientemente a quem puder manipulá-lo sorrateiramente com manobras safardanas da máquina pública ou do poder econômico. Acrescente uma boa dose de lobotomia religiosa e pronto: eleito mais um filha da puta com grandes planos para superfaturar cada nota fiscal do gabinete e trocar gentilezas com seus irmãos em Cristo. Usando o meu dinheiro, claro.
No Rio de Janeiro, o candidato Eduardo Paes (PMDB) virou a preferência do eleitorado com um estratagema manjado: feriado antecipado. Quase um milhão de eleitores cariocas trocaram as urnas pelas praias e já começou a pipocar o movimento quente e sensual pela invalidação do pleito.
A estes bravos heróis da resistência de quem honra as calças que veste e dorme em paz quando coloca a cabeça no travesseiro, dou total apoio. Não tenho mais a disposição de bradar minhas revoltas e inconformações contra Tudo Isto Que Está Aí, mas acho importante que mantenham um mínimo de oposição popular à falta de vergonha na cara desses putos que cospem na bandeira brasileira com a mesma empolgação com que salivam raivosos em suas pregações psicoativas no culto.
Particularmente, não fico tão triste de ver o Gabeira (PV) perder a prefeitura do Rio pois pressentia o risco iminente de queimar-se involuntariamente o filme de uma das cada vez mais solitárias cabeças pensantes do cenário político brasileiro. E aos estudantes do futuro, leitores que pretendo atingir com este textículo, não será novidade se eu disser que o cidadão Fernando Gabeira foi o responsável por fornecer respostas lúcidas, imediatas e claramente pautadas pela lógica dos fatos narrados na História às perguntas eloqüentes de uma sociedade brasileira cada vez mais fodida e mal paga nas mãos dos patifes proponentes de uma nova Idade das Trevas, os sacerdotes missionários do abençoado Senhor Dinheiro.
Tá chegando a hora, não tem jeito. A cara de pau dos “irmãos” vai beirando o momento em que algum dos espertinhos vai se afobar demais e fazer cair a máscara gospel que acoberta a sensatez dos cidadãos menos oportunizados.
Em Vila Velha, primeiro município do estado do Espírito Santo (espécie de “China brasileira”, ou “Acre do Sudeste”) o candidato Neucimar Fraga (PQP) foi eleito com uma maioria inexpressiva de votos concentrados em regiões miseráveis onde o cabresto é um microfone e uma caixa de som. Caríssimos.
Os centros urbanos, populacionais, financeiros e intelectuais do município canela-verde expressaram sua preferência ao candidato Dr. Hércules (PMDB), mas ainda assim na apuração final deu “22” (dois patinhos na lagoa, sacou?) nas urnas e meu irmão pré-adolescente faturou dez contos à mercê do meu otimismo inveterado.
Como cidadão consciente fiz a minha parte: ao receber a notícia de que o novo prefeito da minha cidade natal era um pastor evangélico, imediatamente chamei o garçon e pedi para ele botar outra grade no freezer. Ou isto ou eu acabaria cedendo à vontade inquietante de ir atear fogo à sede da PMVV.
Anotem mais uma aí: se o Novo Jesus Reencarnado Obama não se mostrar o maior filho da puta de todos nos próximos quatro anos à frente da presidência dos Estados Unidos em Coma da América eu não me chamo Ivo Neuman.
(*) As ilustrações são do Rasura Livre
(**) A sugestão de pauta foi do Markus Lemos, que me fez perder um bom tempo me desgastando psicologicamente com este texto improdutivo
(***) Dedicado epecialmente à minha mãe, uma destas poucas pessoas que se permitem sonhar com um mundo melhor para vivermos mas não ficam de braços cruzados esperando alguém fazer alguma coisa