Além de blogueiro e garoto-de-programa ("garotodeprögrama" pelas novas regras gramaticais vigentes), acredito que posso me considerar também um amador esforçado em design
de interiores gráfico.
Desde cedo, muitas vezes me deparei com situações em que um cartaz, uma camiseta de turma ou uma placa de loja ficariam bem melhores se tivessem um desenho caprichado. Daí pra criação da minha primeira logomarca foi um pulo.
Hoje, com alguns anos de gambiarras fotoxópicas da vida, acredito que posso dar algumas dicas para os leitores do TRETA e os pesquisadores do Google sobre como criar uma logormarca minimamente limpa e suficientemente original para dar uma incrementada no visual da sua empresa, marca ou evento.
Aviso, contudo, que minhas humildes dicas não são derivadas de aprendizados científicos, nem possuem qualquer embasamento acadêmico para comprovar suas afirmações.
Por isso mesmo não usei a palavra "Tutorial" no título.
Enfim, chega de lenga-lenga e vamos ao que interessa:
1. FUNDO
Ao contrário do que os profissionais muito provavelmente fazem, eu prefiro começar a minha linha de raciocínio na hora de produzir uma logo preocupando-me com o plano de fundo, a tela, a moldura. Quero dizer: antes mesmo de começar sua brainstorm pense e reflita onde a marca que você desenhar será aplicada. Vai ser impressa numa folha de papel ou num muro? De que tamanho? Num objeto com volumes diferentes? Qual a cor da superfície? Numa camiseta? Num site?
E mais: e no futuro? Se sua logomarca der certo e você quiser mantê-la por algum tempo, pense também nas aplicações futuras: imagine se aquele desenho tosco que você fez pra carrocinha de pamonha do seu tio-avô virar sucesso e a parada se transformar numa franquia internacional com direito à sua marca desenhada em plantações de milho pelo mundo afora?
2. CONCEITO
Agora que você já sabe onde vai desenhar sua logomarca, feche os olhos e imagine sua tela para começar a pincelar o formato dela. Vai fazer um desenho ou usar somente texto? Os dois? Com muitos detalhes gráficos ou só um carimbo?
Na verdade é aqui que o bicho pega e você ganha (ou perde) o jogo contra o mal-gosto. Se deseja fazer uma placa, busque no seu cérebro as melhores placas que você já viu ou então simplesmente tente imaginar uma placa que lhe causasse algum impacto.
É aqui também que você vai estabelecer dois valores chaves para iniciar sua obra: coerência e identidade. Reflita profundamente sobre como seria uma estampa incrivelmente respeitável para aquilo que quer rotular. Não invente traços futuristas e arrojados para falar com um público da 3ª idade, nem faça desenhos bobos para atingir um público mais exigente. Lembre-se neste momento que a ideia é comunicar alguma coisa instantaneamente num simples olhar do cliente ou formadores de opinião. De preferência atingindo o subconsciente dos transeuntes desavisados com uma mensagem sublimada nos contornos do seu brasão.
3. CORES
Seguindo o raciocínio acima, a escolha da combinação de cores pode ser o toque de sagacidade e malemolência da obra. Duvido que você nunca tenha ouvido falar que o amarelo e o vermelho utilizados por 10 entre 10 redes de fast-food induzem a fome nos consumidores. É fato. Minha teoria particular é a de que as associamos imediatamente aos famosos frascos de catchup e mostarda guardados em nosso acervo cerebral de cognições imediatas.
A verdade é que as cores escolhidas devem combinar com o FUNDO e com o CONCEITO. Não invente algo que só fique bem em fundo escuro se o fundo do seu template for necessariamente branco, nem faça um anúncio de cores mortas se quiser falar ao público gay.
E nunca, jamais, em tempo algum, combine marrom com verde-caganeira.
4. FONTES
Há algum tempo atrás podia até ser difícil usar um tipo de letra mais complexo para a sua logo, afinal era preciso imaginar e criar artesanalmente os moldes de cada caractere utilizado. Hoje, com o advento da informática e dos gloriosos bancos de fontes gratuitas, basta você manter o seu foco na continuação das etapas acima e escolher um estilo de texto coerente com a mensagem que ele pretende transmitir.
Lembre-se de que o texto deve ficar visível nos tamanhos diversos em que for publicado, portanto, esqueça definitivamente as letras miúdas ou muito "magrinhas" se a ideia for chamar a atenção à longa distância.
No caso de ser preciso utilizar mais de uma palavra ou grupo de palavras na sua logomarca, estabeleça uma hierarquia entre elas, demarcando o que seria o título do que seria o subtítulo.
Seja original quando a ideia é impressionar ou use uma fonte padrão se o ponto é ser eficiente. Nada de Times New Roman para comunicar-se com crianças. Na verdade, esqueça as serifas (aqueles tracinhos nas extremidades das letras) se o seu público-alvo ainda não for uma seleta confraria de executivos esnobes.
5. FEEDBACK
Depois de escolher o formato, as cores, as fontes e finalizar sua obra, "pense com a cabeça dos outros". De preferência, deixe salvo vários esboços da sua logomarca durante o processo para medir algumas opiniões sobre as ideias que você foi empregando.
Mas tome muito cuidado com a origem da crítica ou você só vai arrumar problemas e pode arruinar aquilo que produziu com tanto carinho a troco de nada. Selecione alguém com um mínimo de proximidade do seu público-alvo e que tenha intimidade suficiente para lhe fazer uma crítica sincera. Se estiver ao seu alcance, peça para algum entendido no assunto avaliar sua logo. E prepare-se para ter que recomeçar do zero. Faz parte.
ESTUDOS DE CASO
Pra deixar uma demonstração rápida e rasteira de como criar uma logomarca pode ser uma tarefa das mais simples e acessíveis, trago dois exemplos recentes em que me meti a reformar uma logomarca amiga para dar uma garibada esperta no aspecto do empreendimento.
A) FONESMAX
Meu cunhado bem que tentou fazer a logo de sua loja virtual de fones de ouvido por conta própria, mas usou uma distribuição esquisita de texto e imagens, esticou verticalmente a palavra "Fones" (prejudicando a leitura já dificultada pelas cores claras em fundo branco) e ainda jogou um degrade esquisito de amarelo e laranja (remetendo à ideia de fogo que não tem nada a ver com o estabelecimento).
Em reformulação, escolhi uma fonte arrojada e utilizei o efeito Bevel/Emboss para dar um ar mais moderno à criação, transformando o desenho do fone num suporte para destacar a palavra "max".
Fiz em 5 minutos.
B) OUTSIDE
Fui contemplado neste fim de ano com o 1º lugar na marota promoção realizada pelo blog OutSide para reformular a header de seu layout (sem ter que pagar um profissional).
As regras do concurso eram manter o tema litorâneo e desenvolver um mascote para o blog, e num rompante de tédio numa madrugada fria, decidi tratar algumas imagens a esmo na busca de uma barra superior que não fugisse ao conceito da original mas deixasse um aspecto um pouco mais impactante aos visitantes, com cores um pouco mais fortes e um maior contraste.
Faturei um MP4 sem sair de casa. \o/
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Então é isso, macacada. Eu espero que os pitacos acima lhes tenham alguma serventia.
Sou adepto dos bons valores estéticos e ideias inusitadas para a consecução de qualquer empreitada gráfica e tenho certeza que muita gente ainda usa péssimas logomarcas ao redor do planeta por pura preguiça.
E se a técnica do "faça-você-mesmo" não der resultados no seu negócio, não deixe de sondar o custo-benefício de se contratar um designer profissional para desenvolver a logomarca dos seus sonhos.