Dia dos Namorados


moscas A enxurrada de clichês publicitários que antecede mais esta data comemorativa já havia me admoestado que hoje seria um dia difícil. Otimista inveterado que sou, iludi-me acreditando que seria possível escapar ileso simplesmente concentrando meus pensamentos na Luana Piovani. Pobre mentecapto.

Acordo pela manhã ao som de Ana Maria Braga declamando uma crônica sobre o amor incondicional. Lembro-me que alguém certa vez disse à apresentadora que somente fizesse sexo “com segurança”, e ela vêm levando o conselho ao pé-da-letra desde então. Tá explicado o lirismo. Decido que não iria mais ligar a TV pelo resto dia.

No trabalho, mulheres recebendo flores (possivelmente enviadas por elas mesmas), colegas especulando sobre presentes, sobre jantares em restaurantes chiques de comida italiana, e sobre a noitada provavelmente animada dos casais ao redor do globo. E eu me perguntando por que catso o 12 de junho não foi proclamado feriado. Pelo menos eu poderia ficar em casa jogando Solitaire.

Chego em casa, abro o Reader, e me deparo com toneladas e mais toneladas de postagens homoafetivas em ode à data. Frederico Fagundes, que já estava na lista de suspeitos por seu blog cor-de-rosa, me destrói o crepúsculo vespertino com um texto tocante sobre o amor e a arte de ser feliz.

Como se não bastasse, Dani Koetz abusa do direito de ser mulherzinha e publica uma foto dela acampando com o maridão no meio da sala de casa no meio de um post sobre os relacionamentos perfeitos, a paz mundial e, claro, o amor incondicional. Pelo menos ela lembrou da camisinha.

Até mesmo o blog Sedentário & Hiperativo, que até então gozava de toda a minha admiração e respeito, publica uma inacreditável animação em flash, digna daqueles scraps de Orkut que a gente apaga sem ler, com imagens de casais de propaganda de margarina se beijando na chuva e a música embala-punheta “Kiss The Rain” ao fundo. Depois acham ruim quando utilizam a expressão “Boiolosfera”.

Tanto açúcar num dia instituído com o único e mercantilista objetivo de incrementar as vendas de discos do Djavan me fez ficar meio nauseado.

No final das contas, como bem sabem o Cardoso e o André Dahmer, tudo não passa de uma questão de biologia.

terapia

Dia dos namorados de cú é rôla.
 

(*) Sim, eu briguei com a minha namorada.