Estudos sobre a maconha que a imprensa omite


Enquanto a sociedade reivindica medidas mais efetivas e adequadas das autoridades, a mídia e grupos políticos conservadores se empenham em evitar que certas informações cheguem ao conhecimento público. Quando a pauta é maconha (também conhecida como marijuana, cannabis, cânhamo, liamba, aliamba, bagulho, banza, baseado, belo, belota, bina, birro, boia, breu, brenfa, broca, borete, bunfa, camarão, cangonha, canja, capim, caroço, chá, charro, chinfra, chirona, diamba, erva do capeta, fininho, fumo d’angola, ganja, grama, jererê,  lombra, manga rosa, marola, Mary Jane, massa, mato, ópio de pobre, rama, suruma, tijolo, verde, verdinho, xibaba, entre outros que vocês vão dizer nos comentários) o discurso costuma insistir na mera questão da ilegalidade do consumo, da violência do tráfico e dos seus efeitos nocivos, apresentando apenas estudos científicos contrários a seu uso.

Enquanto o uso terapêutico da cannabis é completamente ignorado no Brasil, países desenvolvidos comprovam sua eficácia através de pesquisas avançadas e entidades sérias reivindicam sua liberação.

Confira abaixo uma lista com alguns estudos recentes positivos sobre a maconha, que não chegam ao conhecimento do cidadão e abandonam milhares de pessoas enfermas que poderiam se beneficiar do acesso a terapias alternativas mais eficazes, sem uso dos remédios convencionais, que – não por acaso – rendem fortunas aos grandes laboratórios.
 

Usuários frequentes de cannabis não têm maior chance de adquirir câncer do que fumantes ocasionais de maconha ou não-fumantes

De acordo com dados apresentados em abril durante o encontro anual da Academia Americana para a Pesquisa do Câncer, quem fuma maconha regularmente não possui maiores chances de ter câncer do que quem fuma de vez em quando ou não fuma. Pesquisadores da Universidade da Califórnia analisaram mais de 5 mil pessoas em todo o mundo entre 1999 e 2012 e confirmam: “Nossos resultados não mostram uma associação significativa entre intensidade, duração e consumo cumulativo de maconha e o risco de câncer”.

Outros estudos já haviam falhado em associar a cannabis ao câncer de cabeça e pescoço ou ao câncer do aparelho digestivo superior. No entanto, o DEA(organismo que controla as drogas nos EUA) continua a dizer que “fumar maconha aumenta o risco de câncer da cabeça, pescoço, pulmões e aparelho respiratório”.
 

Uso frequente de cannabis é associado à redução dos fatores de risco para o diabetes tipo 2

A maconha terá algum dia um papel importante em evitar a crescente epidemia de diabetes tipo 2? Novos estudos indicam que é possível. De acordo com dados publicados este mês pelo American Journal of Medicine, pessoas que consomem cannabis regularmente possuem indicadores favoráveis relacionados ao controle do diabetes comparados a usuários ocasionais ou não usuários. Pesquisadores do Beth Israel Deaconess Medical Centre, em Boston, perguntaram a 5 mil adultos diabéticos se eles fumavam ou haviam fumado maconha alguma vez. Os que usavam regularmente tiveram níveis de insulina 16% mais baixos em jejum e resistência menor à insulina comparados aos que nunca tinham usado. Já os não usuários possuíam maior gordura abdominal e menor nível de colesterol “bom” (HDL) – ambos são fatores de risco para o diabetes tipo 2.

Benefícios similares foram reportados em usuários eventuais, apesar de serem menos importantes, “sugerindo que o impacto do uso da maconha sobre a insulina e a resistência à insulina existe durante períodos de uso recente”.

As novas descobertas confirmam os estudos de 2012 de uma equipe de pesquisadores da UCLA, publicados no British Medical Journal, segundo o qual adultos com histórico de uso de maconha são menos afetados pelo diabetes do tipo 2 e possuem um menor risco de contrair a a doença do que aqueles que nunca fumaram, mesmo após os pesquisadores ajustarem as variáveis sociais (etnia, nível de atividade física etc.). Conclui o estudo: “(Esta) análise de adultos entre 20-59 anos… mostrou que os participantes que usaram maconha foram menos afetados pela DM (Diabetes Mellitus) e por problemas associados à DM do que não usuários”.

O diabetes é a terceira causa de morte nos EUA após doenças do coração e câncer(no Brasil, o diabetes mata mais do que a Aids e os acidentes de trânsito).
 

Fumar maconha reduz dramaticamente os sintomas da doença de Crohn

Fumar maconha duas vezes ao dia reduz significativamente os sintomas da doença de Crohn, uma doença crônica inflamatória intestinal que atinge cerca de meio milhão de americanos (atualmente está se investigando o número de portadores no Brasil). É o que diz o primeiro estudo já feito relacionando o uso de cannabis à doença, publicado online este mês na revista científica Clinical Gastroenterology and Hepatology.

Pesquisadores do Departamento de Gastroenterologia e Hepatologia do Meir Medical Center, em Israel, asseguraram a eficácia de fumar cannabis versus placebo em 21 pacientes com a doença de Crohn que não respondiam ao tratamento convencional. Onze participantes fumaram baseados contendo 23% de THC e 0,5% de canabidiol –um canabinóide não-psicotrópico conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias– duas vezes ao dia durante oito semanas. Os outros dez fumaram cigarros contendo placebo.

Os pesquisadores dizem que “os estudos mostraram que o tratamento de 8 semanas com a cannabis contendo THC enriquecido foi associada a um significativo decréscimo de 100 pontos no CDAI (Índice de Atividade da Doença de Crohn)”. Cinco dos 11 pacientes no grupo estudado reportaram remissão da doença (definida como uma redução no escore CDAI do paciente em mais de 150 pontos). Participantes que fumaram maconha reportaram diminuição da dor, aumento do apetite e melhor sono comparado aos demais. “Nenhum efeito colateral significativo” associado ao uso da cannabis foi reportado.

Os resultados clínicos dão razão a décadas de relatos pessoais de pacientes de Crohn sobre usar cannabis para aplacar os sintomas da doença.
 

Maconha sintética detém infecção por HIV em células brancas

A administração de THC vem sendo associada à queda na mortalidade e à desaceleração da progressão da doença em macacos com o vírus da imunodeficiência símia, uma espécie primata do HIV. Canabinóides poderiam ter efeito similar em humanos? As descobertas de um estudo recente indicam que a resposta pode ser “sim” e que a substância parece ter ação no combate à doença.

Na edição de maio do Journal of Leukocyte Biology, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Temple, na Filadélfia, informaram que a administração de canabinóides sintéticos limitam a infecção por HIV em macrófagos (células brancas do sangue que ajudam na imunidade do corpo). Pesquisadores asseguraram o impacto de três tipos de maconha sintética disponíveis no mercado (componentes não-orgânicos que agem sobre o cérebro da mesma forma que a planta) em células macrófagas infectadas pelo HIV. Depois, os pesquisadores colheram amostras das células periodicamente para medir a atividade da enzima chamada transcriptase, que é essencial para a replicação do HIV. No sétimo dia, a equipe descobriu que os três compostos tiveram sucesso em atenuar a replicação do HIV.

“Os resultados sugerem que o CB2 (receptor canabinóide) poderia ser potencialmente utilizado, em associação com drogas retrovirais existentes, abrindo a porta para a geração de novas terapias para o HIV/Aids”, resumiram os pesquisadores em um comunicado à imprensa da Temple. “Os dados também confirmam a ideia de que o sistema imunológico humano poderia ser fortalecido para combater o HIV”. (Em português meio cifrado aqui.)
 

Canabinóides oferecem um tratamento eficaz na terapia para o TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático)

O estresse pós-traumático atinge cerca de 8 milhões de norte-americanos anualmente (com tantas guerras, pudera) e tratamentos eficazes para a síndrome são ainda raros ou desconhecidos. Mas uma pesquisa publicada em maio pela revista Molecular Psychiatry indica que os canabinóides possuem potencial para tratar o transtorno com sucesso.

Pesquisadores da New York School of Medicine informaram que pessoas diagnosticadas com TEPT possuem elevadas quantidades de receptores endógenos de canabinóides em regiões do cérebro associadas ao medo e à ansiedade. Além disso, os cientistas disseram que estas pessoas sofrem de uma produção reduzida de anandamida, um canabinóide endógeno neurotransmissor, resultando em um sistema endocanabinóide desequilibrado. (O sistema receptor de canabinóide endógeno é um sistema regulatório presente em organismos vivos com o propósito de promover homeostase ou estabilidade).

Os autores especularam que aumentar a produção de canabinóides no corpo poderia restaurar a química natural do cérebro e seu equilíbrio psicológico. Eles afirmam: “Nossas descobertas indicam (…) existir evidências de que canabinóides oriundos de plantas como a maconha podem causar benefícios em indivíduos com TEPT, ajudando a acabar com os pesadelos e outros sintomas.”

Infelizmente, em 2011, o governo norte-americano impediu que os pesquisadores da Universidade do Arizona, em Phoenix, conduzissem um teste clínico para avaliar o uso da cannabis em 50 pacientes com TEPT.

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Texto de Paul Armentano com tradução de Cynara Menezes para o Socialista Morena.