Quase 150 episódios da nossa série e eu ainda fico sem palavras ante aos abusos absurdos flagrados pelas câmeras da internet. Para situar o leitor, transcrevo a descrição do vídeo logo abaixo:
"Hoje, por volta das 16h, eu e três amigos estávamos tranquilamente conversando na praia, quando tudo aconteceu. Um grupo de cerca de 25 homens da Guarda Municipal passou na nossa frente e logo mais adiante, adentrou na parte da praia de Ipanema que costuma ter mais movimento, um lugar conhecido como ‘Coqueirão’. Eram muitos guardas que olhavam em volta, procurando algum vestígio, algum rastro de alguma coisa que nem nós, nem provavelmente eles, sabiam identificar.
Passado pouco mais de dois minutos, começou um princípio de confusão, que rapidamente virou uma confusão generalizada. Como tudo começou, não é possível dizer. O fato é que quando os guardas municipais quiseram levar um jovem, aplicando uma ‘gravata’ no seu pescoço, as pessoas espontaneamente se rebelaram contra aquilo que elas julgavam uma injustiça, ou pelo menos, uma ação totalmente desmedida. Eram côcos voando pelo alto e cadeiras e barracas sendo arremessadas em direção aos guardas. Estes, por sua vez, revidaram com cacetetes, mas não conseguiram resistir ao poder da fúria da multidão e foram obrigados a ‘fugir’ em direção ao calçadão. Lá, ficaram perfilados lado a um lado, enquanto do lado oposto, mais ou menos 40 jovens perfilavam-se na parte final da areia. Um clima de enfrentamento se estabeleceu. Jovens xingavam os guardas, tacavam coisas e estes respondiam tacando as coisas de volta.
Depois de um tempo em que os ânimos pareceram acalmar-se, e a multidão baixou sua fúria, os guardas, contrariando as expectativas, correram em bando em direção à praia novamente, protagonizando a cena mais bárbara do dia, quando um jovem caiu no chão e foi covardemente agredido por dezenas de guardas municipais. Qualquer tipo de ‘razão’ que os guardas tenham tido até ali foram esmagadas. Naquele momento, não se tratava de uma força do Estado, mas de um grupo de pessoas movidos por um espírito de ódio, humilhação e revanche. Depois disso, os guardas, talvez saciados do seu espírito de vingança, foram embora, levando consigo o jovem agredido, e a ordem pareceu reinar novamente no ambiente.
Agora, algumas observações pessoais. Sem dúvida, os guardas tiveram algum motivo para fazer o que fizeram. Porém, nem tudo que se explica, se justifica. Não é aceitável que os guardas municipais, seja pela razão que for (um baseado de maconha, uma ofensa disparada ou uma bola jogada para o alto) promovam o verdadeiro distúrbio que provocaram hoje, ferindo pessoas aleatoriamente, numa espécie de arrastão promovido pelo Estado. Não consigo entender o ‘Choque de Ordem’. Isto parece o ‘Choque da Desordem’. A Praia de Ipanema virou literalmente um campo de batalha, uma cena dos infernos.
Em segundo lugar, este episódio foi uma manifestação espontânea, que assim como muitas outras ocorridas na história, opõe apenas lados perdedores. Tanto os banhistas que estavam na praia, que se revoltaram a respeito de algo que consideravam injusto, quanto os guardas municipais, que são obrigados a cumprir com ordens superiores e praticar atos de injustiça por apenas 1.270 reais por mês. Talvez um historiador, daqui a 80 anos, queira explicar a ‘Batalha da Praia de Ipanema’, ocorrida em 9 de outubro de 2012. E ele vai ter que responder: a culpa é de quem?"
Gustavo Guimarães
BONUS TRACK – Versão extendida:
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Enviado simultaneamente pelo Eduardo e pelo Léo.