Desde que o Brasil saiu do regime militar e voltou a brincar de democracia em 1989, temos vivido uma espécie de pingue-pongue ideológico na corrida presidencial. Um cabo de guerra civilizado — ou quase isso — entre o que convencionamos chamar de “esquerda” e “direita”, ainda que esses rótulos, no Brasil, tenham mais a ver com torcida organizada do que com ideologia política consistente.
Alternância de poder: nem tão rara, nem tão harmônica
Nos nove pleitos presidenciais com voto direto desde 1989, o poder trocou de mãos algumas vezes — mas também teve seus longos reinados. Vejamos:
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Fernando Collor, em 1989, venceu Lula num 2º turno apertado e inaugurou a era democrática com um governo breve, controverso e, bem… impeachmado.
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Na sequência, veio o bicampeonato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), vencendo já no 1º turno em 1994 e 1998, surfando no Plano Real e no anti-petismo raiz.
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Lula (PT) assumiu o bastão da esquerda e ficou oito anos no poder (2003–2010), passando o bastão para sua afilhada política, Dilma Rousseff, que também governou por dois mandatos (ou quase).
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Em 2016, Dilma caiu, e Michel Temer (MDB) assumiu de tabela, sem ter concorrido a nada, numa das reviravoltas mais surrealistas da política moderna. Em português brasileiro, lê-se “golpe”.
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Veio então a vez da direita conservadora bolsonarista, com Jair Bolsonaro (PSL/PL) em 2018, rompendo com a polarização PSDB x PT — mas mantendo a polarização, claro.
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E, como num roteiro de série da Netflix, Lula voltou em 2022, provando que o Brasil é mesmo um país onde tudo pode acontecer — até o improvável.
Resultados das Eleições Brasileiras para Presidente da República:
✅ 1989 – 2º Turno
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Fernando Collor (PRN): 53,03%
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Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 46,97%
✅ 1994 – 1º Turno
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Fernando Henrique Cardoso (PSDB): 54,28%
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Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 27,04%
✅ 1998 – 1º Turno
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Fernando Henrique Cardoso (PSDB): 53,06%
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Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 31,71%
✅ 2002 – 2º Turno
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Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 61,27%
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José Serra (PSDB): 38,73%
✅ 2006 – 2º Turno
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Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 60,83%
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Geraldo Alckmin (PSDB): 39,17%
✅ 2010 – 2º Turno
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Dilma Rousseff (PT): 56,05%
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José Serra (PSDB): 43,95%
✅ 2014 – 2º Turno
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Dilma Rousseff (PT): 51,64%
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Aécio Neves (PSDB): 48,36%
✅ 2018 – 2º Turno
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Jair Bolsonaro (PSL): 55,13%
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Fernando Haddad (PT): 44,87%
✅ 2022 – 2º Turno
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Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 50,90%
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Jair Bolsonaro (PL): 49,10%
Esquerda x Direita: quem levou mais?
Se quisermos simplificar (e correr o risco de exagerar um pouquinho), o placar seria algo assim:
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Centro-direita / Direita (Collor, FHC, Bolsonaro): 5 vitórias
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Esquerda / Centro-esquerda (Lula, Dilma): 5 vitórias
Um empate técnico que beira o equilíbrio democrático, ainda que a realidade por trás desses números seja bem mais caótica e cheia de plot twists.
Mas… o que é esquerda e direita no Brasil?
Boa pergunta, caro eleitor. No Brasil, os partidos são como escolas de samba: trocam de nome, de enredo e até de posição no desfile, dependendo da música que está tocando. A tal “direita liberal” que defende o Estado mínimo vive pendurada no funcionalismo. E a “esquerda revolucionária”… bem, já fez reforma da Previdência, aprovou Lei de Responsabilidade Fiscal e manteve juros altos quando governou.
No fundo, o que temos é uma democracia que, apesar de seus tropeços (vulgo dois impeachments, mensalão, lava-jato, fake news, motociatas e jatinhos da FAB para casamento de influencer), ainda funciona — mesmo que aos trancos e barracos.
Conclusão: democracia de boteco, mas é democracia
O Brasil talvez não seja o exemplo mais ortodoxo de alternância de poder, mas a urna eletrônica segue firme (apesar de odiada por alguns), e a vontade do povo — seja ela guiada por memes ou convicções — continua valendo.
Em tempos de radicalismo, negacionismo e paixões políticas que beiram o fanatismo religioso, talvez o maior milagre da democracia brasileira seja esse: ela ainda está de pé, meio trôpega, mas resistindo.
E quem sabe o próximo presidente não seja do centrão, do TikTok ou de Marte? Aqui, tudo é possível.