Como seria a Turma da Mônica em um futuro realista?


Esqueça o encantado mundo dos gibis, na vida real a turma não seria tão jovem:

Outro dia me peguei pensando nisso. Não porque eu fosse uma criança particularmente fissurada em gibi — eu era mais do tipo que comprava só pela página dos passatempos, preenchia um labirinto torto e esquecia o resto embaixo da torradeira. Mas a questão veio. Como seria a Turma da Mônica em um futuro realista?

Não um futuro futurista. Não quero a Mônica com um braço biônico distribuindo coelhadas em robôs. Quero um futuro plausível. Prosaico. Chato, até. A vida como ela é, como diria Nelson Rodrigues. Ou como ela finge ser no LinkedIn.

Comecemos pela própria Mônica. Empreendedora. Fundou uma startup de brinquedos afetivos, feitos de pelúcia e memória emocional. Ganhou prêmio em Lisboa. De vez em quando, ainda sonha com coelhos, mas agora só metafóricos — chama de “animal totem” no Instagram. Tem três perfis: pessoal, profissional e um meio místico que ninguém entende muito bem.

Cebolinha? Virou publicitário. Claro. Toda aquela habilidade com slogans (“Plano infalível!”) tinha que dar em alguma coisa. Troca o “R” pelo “L” ainda? Não mais. Fez fono. Mas sente saudade. De vez em quando, num brainstorm cansativo, escapa um “plofissional” no meio da reunião. O diretor de criação acha cool. Acha que é branding.

Magali? Influencer de comida. “Magali em Paris” é o nome da conta. Já tem meio milhão de seguidores. Come absurdos. Tarte Tatin com bacon vegano, essas coisas. Faz reels mastigando devagar, com uma musiquinha ASMR de fundo. Em casa, come pão com manteiga, mas isso ela não mostra.

Cascão? Ah, o Cascão. Meio trágico. Tentou ser youtuber de sobrevivência urbana. “Como passar 7 dias sem banho e manter o networking.” Não deu certo. Agora é coach. Palestras motivacionais em empresas: “Vença o medo da água e outros bloqueios mentais.” Tem público.

E a turminha em si? Se vê pouco. O grupo de WhatsApp “Amigos do Bairro do Limoeiro” ficou meio morto depois da eleição. Tem um sticker da Mônica de coelhada que é usado basicamente pra encerrar discussão. Tentaram organizar um churrasco de reencontro. Virou call no Zoom. Quase ninguém apareceu.

E aí está. Um futuro realista. Não sei se mais triste ou mais engraçado. Talvez só mais humano. Porque no fim das contas, a vida é isso mesmo: um eterno plano infalível que nunca sai como a gente quer. Mas ainda assim a gente insiste. Com ou sem coelhada.

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Via Trabalho Sujo