Meu pai, meu herói


pai É sabido entre os especialistas do ramos de psicologia e ciências humanas em geral que filhos de pais separados costumam ter distúrbios agudos em suas personalidades, oriundos de graves traumas existênciais de infância. Se você acompanha este blog, talvez já imagine: este é o meu caso.

Quando criança, tive alguns problemas envolvendo a minha figura paterna que me deixaram lembranças fortes de como a nossa sociedade está aí para recriminar tudo aquilo que é diferente dos padrões. Foi assim que uma turma inteira do ensino pré-escolar do Colégio Marista, o Jardim II (média de 4 a 5 anos de idade) me deixou ligeiramente irritado quando virei alvo das chacotas gerais da sala por ter um pai com a orelha furada em idos de 1988.

Naquela época, o meu nível de consciência não me permitia entender que muitas vezes o divórcio pode ser a única solução para uma impossibilidade familiar, e que um brinco na orelha pode ser apenas um adereço unissex. Hoje eu sei isso aí e um pouco mais.

Ser filho de pais separados me colocou numa delicada situação. Todo final de semana eu abandonava a rotina do dia-a-dia e suas regras estabelecidas pelo ritmo diferente da casa do meu pai. Outros valores, outros ensinamentos. Se por um lado na casa da minha mãe eu podia comer quantos chocolates eu quisesse, na casa do meu pai eu podia ir dormir a hora que eu bem entendesse. Talvez por isso hoje eu seja um adulto (?) que dorme tarde da noite entupido de chocolate. O nome disso é “sincretismo de normas”.

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Ser criado em dois lares com nuances tão antagônicas me permitiu ter a noção de que tudo é relativo, e que toda regra tem exceção. E, principalmente, me permitiu crescer dando valor àquilo que meu pai sempre me forneceu em abundância: liberdade.

Hoje, aos 24 anos, eu consigo entender que a melhor postura que um pai pode ter diante de um filho é aproximar-se com sinceridade, deixar que o filho saiba quem ele é, longe da figura forçada e austera de um “pai” de propaganda.

Salvo engano, meu pai usou gravata apenas no dia da sua formatura e em seu casamento com a minha mãe. Em compensação, a camisa vermelha toda transada que usei quando fiquei com a primeira namoradinha da escola, era emprestada dele. Foi em 1997 num show do Kid Abelha, e adivinha quem conseguiu os convites com um amigo da rádio? Meu pai, meu herói.

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Desenhista, publicitário, designer e artista plástico, meu pai nunca quis seguir o estereótipo do pai que usa camisa pólo e chinelos Rider. Pelo contrário, exibe dois furos na orelha e uma bela tatuagem tribal no braço direito. Aprendi a usar o Corel Draw e o Adobe Photoshop vendo o coroa passar tardes inteiras na agência de publicidade fazendo arte digital. Foi com ele também que aprendi a combinar cores, montar layouts, escolher fontes – e que eu não sabia desenhar.

Quando foi produtor de eventos, tive a honra de ver meu pai incentivar a cultura underground trazendo as bandas Mundo Livre S.A., Pavilhão 9 e os reggaeiros do Nativus (antes de virar “Natiruts”) pra tocar no ES – com 14 anos, assisti do backstage e logo tomei gosto pela coisa. Também era divertido assaltar o estoque de garrafas de Malibu da casa noturna de meu pai quando tinha churrasco da escola. Se estivéssemos num filme americano, seria o tipo de atitude que me tornaria extremamente popular entre os colegas. Mais do que quando meu pai começou a namorar uma surfista gatíssima de 19 anos.

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Aliás, quando veio a adolescência eu pude então descobrir qual é o verdadeiro barato de ter um pai diferente. Um pai com bons contatos no meio comucacional, alguém conhecido em gráficas, agências de publicidade e rádios FM como um grande artista. Não é qualquer pai que fica meio decepcionado quando o filho decide prestar vestibular pra Direito.

Hoje já não é novidade nem mais entre os meus amigos. Cansado de sair pra gandaia com a galera e encontrar inusitadamente meu pai se divertindo mais do que eu, resolvi carregá-lo pra gandaia comigo e ganhei um grande companheiro. Alguém que, se não fosse a natural explicação genética, me deixaria estarrecido de tão parecido comigo que é. Mais do que um amigo pra todas as horas, um verdadeiro bróder.pai.foto

Por isso, neste dia dos pais vou poder fazer o que talvez seja a vontade de muitos blogueiros: vou economizar a grana do presente fazendo uma homenagem ao meu pai na forma de um dos elementos mais prezados e difundidos por este site. Um singelo LINK.

Pra fechar com chave de ouro o seu festival de particularidades, meu pai agora também tem um blog. Aliás, um não, o coroa tem 3 blogs!!!

E o meu presente pro velho nessa data especial vai ser a sua visita a cada uma das três páginas listadas abaixo, onde o artista FERNANDO FRANCEZ, também conhecido como “meu pai”, publica e arquiva as peças do seu portifólio:

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https://fernandofrancez.blogspot.com
– portifólio –

 

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https://francez-criaturacriativa.blogspot.com
– arte freestyle

 

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https://francezpinturainfantil.blogspot.com
– decoração infantil –

 

E só pra terminar este artigo-jabá-de-dia-dos-pais com a vibe da inversão de papéis, taí pra vocês uma matéria
do jornal Folha Vitória sobre a arte em camisetas do “meu garoto”:

Aerografia de Fernando Francez
18/07/2008 às 09h25

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“A banda Clube Big Beatles recebe muitos elogios com relação à beleza e plasticidade das camisas que são usadas em cena. Todos os aplausos devem ser dirigidos ao artista plástico Fernando Francez, criador das camisas do grupo há mais de 12 anos. Pelas fotos é possível ver o processo de trabalho e o resultado obtido pelo talentoso e criativo artista. Ao final dos shows do grupo capixaba é muito comum os músicos serem abordados com a seguinte pergunta: ‘onde posso comprar uma camisa igual?’. A resposta é sempre a mesma: ‘essa é uma exclusividade do Clube Big Beatles‘.

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Fernando Francez é carioca e mora no Espírito Santo desde 1984. Trabalhou como desenhista de embalagens plásticas de uma grande indústria e depois passou para publicidade onde gerenciou a House Agência (NCA) das Casas Giacomin, uma tradicional rede de loja de departamentos. Depois passou uma temporada em Curitiba onde criou, produziu e dirigiu comerciais para TV. Na época se especializou na técnica de animação com bonecos de massa e desenho quadro à quadro. Em 1990 voltou para o Espírito Santo onde trabalhou no mercado publicitário como diretor de arte e ilustrador. Se envolveu, sem nunca se desligar da publicidade, em diversos projetos de histórias em quadrinhos educativas para o Sesi. Paralelamente desenvolveu trabalhos de pinturas em óleo e acrílica sobre tela e fez diversas exposição. Em 1996 se apaixonou pelas técnicas da aerografia (a mesma utilizada nas camisetas da banda Clube Big Beatles). Obteve destaque ao lado de outro craque na aerógrafo, Edmar Chacal, quando participou da criação das pinturas em camisetas de malha que originaram a exposição ‘Heróis e Vilões das HQs’. Foi nesse período que Fernando Francez começou a criar as famosas camisetas do Clube Big Beatles. E, de lá para cá, já desenvolveu mais de 50 modelos diferentes.”

 

Então, é isso. Agora que o cartão virtual está escrito, vou lá dar (e usufruir) o presente do meu pai: uma caixa de cerveja bem gelada pra refrescar as idéias nesse domingão. Recomendo que façam o mesmo.

Feliz dia dos pais!