Domingo, 2 de setembro de 2007, 17h. Estava eu, Ivo Neuman, tentando me recuperar de uma ressaca braba ocasionada por um baile de formatura daqueles na noite anterior, quando resolvi me dirigir ao Clube Libanês, Praia da Costa, Vila Velha, ES, para dar um confere no tão aguardado Estúdio Coca-Cola Espírito Santo, com Dead Fish e Marcelo D2.

Quase mil pessoas se acotovelavam por um lugar na frente da fila para assistir de perto a experiência musical que estaria por vir. Os puritanos sem vida sexual dos fã-clubes da banda de hardcore capixaba aguardavam ansiosamente pela hora de poder xingar seus ídolos com palavrões chulos de baixo calão e bater cabeça nas rodinhas baile funk style que se formariam na frente do palco quando a guitarra pesasse.

Lá dentro, um ambiente festivo, com gatas seminuas exibindo-se em performances semisexuais ao som de primorosas batidas eletrônicas em púlpitos espalhados pelo recinto. Distribuição de refrigerante pra molecada e outros balangandãs promocionais da Coca rolavam soltos enquanto eu me perguntava onde era o bar.

Após ter descolado um indefectível crachá de IMPRENSA (perguntei se não tinha um escrito “BLOGUEIRO” ou “MACACO”, mas disseram que estava em falta), eu tive a grata satisfação de descobrir que no camarote VIP tinha cerveja liberada. Não era Therezópolis™, mas geladinha do jeito que estava, a Sol estava boa, descendo redondo e todo mundo amando.

Quatro latinhas depois, eu e os demais blogueiros capixabas presentes fomos convidados a bater um papo com os caras do Dead Fish. Chegando no esfumaçado camarim, surtos de empolgação ao ficarmos sabendo que a mistura sonora iria conter um HC do Planet Hemp, Eu Quero Ver o Ôco do Raimundos e Polícia do Titãs.

Durante o bate-papo, descobrimos que a banda Dead Fish recusou o convite da Coca-Cola para gravar o Estúdio com a dupla Zezé di Camargo & Luciano:
“Esse lance de colocar letras de música sertaneja em ritmo de hardcore é a essência da estética emo. Queremos o Dead Fish fora dessa.” – disse Rodrigo, vocalista da banda.

Quando o concerto teve início, a mesma galera que esteve ovacionando os rumos da carreira comercial do Dead Fish em palvras de afeto passou a bater cabeça em frente ao palco. Sonzera de primeira e uma apresentação impecável.
Depois veio Marcelo D2 transformando o lugar na maior THC session patrocinada da história do entretenimento capixaba. No mesclado do D2 rolou hip-hop, samba de raiz, reggae, pancadão das antigas (“Eu só quero é ser feliz…”) e um absolutamente fodástico flashback de músicas do Planet Hemp. Tudo ao mesmo tempo.
O ápice do evento veio com Dead Fish e D2 dividindo o palco e embasbacando até mesmo o mais desconfiado dos xiitas. Todos acabaram dando o braço a torcer: o bagulho ficou filé. Todos sorriam, fãs saltitavam, gostosas rebolavam, blogueiros bebiam e emos choravam. Emos sempre choram.
Quando a cerveja o show acabou, todos de volta à triste realidade: as caixas acústicas foram tomadas pelo ritmo contagiante do funk carioca e eu percebi que era hora de ir embora.

Fazendo um balanço final, vejo um saldo extremamente positivo para todos os envolvidos. Para o Espírito Santo ficou a impressão de que estamos começando deixar de ser uma província colonial encravada no Sudeste. Para a Coca-Cola, ação vitoriosa com bons resultados gerais em termos de imagem comercial. Para os músicos da noite, um poupudo cachê. Para mim, particularmente, memórias parciais de um rock alucinante. E duas pulseiras de borracha.
Saudações especiais aos cúmplices da blogosfera capixaba (foto acima): Rafael Porto, Rafa, Saulo e Caio (o Lucas não saiu na foto porque tinha ido buscar uma breja). Aos curiosos e autoridades judiciárias, eu sou esse da esquerda com duas compotas de água benta na mão.
E para mais informações:
Vídeos do show
Site oficial do Estúdio Espírito Santo
Comunidade Estúdio ES no Orkut
Cobertura do blog Alforria
Cobertura f
otográfica do Futilidade Pública
Cobertura fotográfica do NoRock