A discussão do momento: taxar lucros e dividendos. Me explicaram, com didatismo digno de vídeo do Iberê do Manual do Mundo (isso já é uma referência de velho?), que em quase todos os países civilizados (ou semi-civilizados, tipo Mônaco) se cobra essa belezura. Entre 15% e 30%, uma mordida que, se fosse num pastel, seria considerada honesta. Por aqui, vai chegar timidamente em 15%, e já tem gente gritando “COMUNISMO!” como se tivessem confundido Marx com Marquito.
Eu entendo o drama. O Brasil é tipo aquele amigo que organiza churrasco e depois manda a conta detalhada no grupo. O cara cobra até o papel toalha. Empresário brasileiro paga imposto no café, na ração do gato, na coxinha do filho e até no suor da testa. Folha, ISS, ICMS, IRPJ, siglas que parecem bandas indie, mas na verdade são vampiros emocionais.
E aí, vem o governo e diz: “Quero também um pedacinho do que você ganha sentado, com a perninha cruzada, vendo os boletos entrarem em silêncio no app.” A ideia, dizem os bardos tributaristas, é aliviar quem trabalha ou empreende de verdade e pegar um troquinho a mais de quem vive de renda. Faz sentido, filosoficamente falando. Afinal, o cara que abre a padaria às 5h (ou o cara que faz reels motivacional às 6h) carrega o Brasil nas costas enquanto o investidor médio tá lendo Suno Research e bebendo kombuchá.
Mas, claro, nada é simples na terra do “manda no privado”. A galera que não vive de dividendos milionários, mas é dona do próprio negócio, acaba se vendo no espelho da narrativa do “super-rico”. O discurso dos tubarões gruda. E eu entendo: a dor tributária é visceral, ela se mistura com o ódio ao IPTU, ao IPVA, ao IPQP.
Ainda tem o clássico argumento do “desestímulo ao investimento”, que vem sempre acompanhado de um olhar sofrido e um gole demorado no whisky 12 anos. É uma aflição legítima, não vou negar. Só que, ao mesmo tempo, é curioso como o medo de desestimular o investidor costuma ser maior do que o medo de desestimular o trabalhador. A alma do capital tem seus dilemas, um dia ainda vai virar podcast.
Aí vem o dilema moral: todo mundo odeia ver dinheiro público indo pra malas, jatinhos ou farras parlamentares em Dubai. A raiva é genuína. Mas, veja, uma coisa é combater desperdício, outra é discutir quem deve contribuir mais pra manter a máquina funcionando (ou emperrada, dependendo do dia).
No fim, eu não sou contra empresário reclamar. Reclamar é um direito divino, quase um sacramento laico. Eu mesmo reclamo de tudo: do café fraco, do LinkedIn, do horóscopo, do jeito que dobram a pizza na entrega. Só acho que confundir dividendos bilionários com o lucro suado do dono da padaria é um plot twist digno de novela das nove.
Resumindo, se é que se resume alguma coisa nessa vida: a taxação de dividendos, em tese, mira uma injustiça antiga. Não vai salvar o país nem vai transformar o Brasil em Oslo. Mas é um começo, um sussurro de sanidade fiscal no meio do karaokê tributário brasileiro.
E se no fim a gente ainda discordar, tudo bem. Posso te mandar um áudio de 9 minutos explicando melhor. Ou não. Vai depender da minha agenda emocional.
Enquanto isso, eu pago a conta no Pix. Sem desconto. E sorrindo. Porque reclamar, no fundo, é um hobby nacional. E eu sou campeão regional.