A essa altura do campeonato será que dá pra dizer que o capitalismo deu certo? Confira no artigo de Pedro Nunes.
Sequência de tweets do Pedro Nunes que vale registro aqui no TRETA (grifos nossos):
Sabe o que é massa? Essa defesa de que “o capitalismo é lindo porque vide a qualidade de vida nos EUA e no Canadá e na Noruega e…”
A galera realmente acha que é à toa que justamente os países com os maiores índices de condições desumanas de trabalho (TIPO A PORRA DO CONGO) são os que terceirizam uma porrada de serviços e mão de obra para a produção de bens nesses países de alto IDH.
Certamente as grandes empresas americanas contratam call centers na índia porque o sotaque dos indianos é charmoso, lógico. Não é porque eles podem pagar um valor irrisório pela hora trabalhada e enfiar cargas horárias desumanas nos trabalhadores, não.
E certamente é na China que a fábrica da Apple funciona porque os asiáticos são geneticamente mais hábeis com eletrônicos, claro. Não é porque lá eles podem tratar os trabalhadores como lixo a tal grau que precisam colocar telas na fábrica pra reduzir os suicídios.
Esses países têm um IDH alto por uma razão muito simples: Eles terceirizam as práticas que jogariam o IDH no ralo. Jogam em países que não têm uma sociedade civil organizada como a deles todas as práticas que o histórico de luta de seus sindicatos JAMAIS permitiria que acontecessem dentro de seus territórios.
Por que caralhos vocês acham que a Alston praticou corrupção com o governo de São Paulo mas não brinca assim nos países da Europa? É interessante pra esses caras manter determinados locais subdesenvolvidos. Subdesenvolvimento gera mão de obra barata. Eles derrubam governos que estruturam legislações que acabam com as práticas nefastas que gostam de praticar nesses países.
É essa a treta dos EUA com Cuba, inclusive!
Existem aproximadamente 200 países no mundo. Quarenta, vá lá, são esses exemplos FORMIDÁVEIS de capitalismo que galera tanto curte citar. Um quinto dos países do mundo é “bom pra se viver”. Em todo o resto você nasce pra tomar no cu.
Dá pra ir mais longe. Então vamos. Qual é a treta que vocês acham que a classe média tem com o bolsa família?
O bolsa família garante uma renda mínima a famílias que antes precisavam aceitar qualquer emprego. QUALQUER EMPREGO. Em qualquer condição. Só pra NÃO MORRER DE FOME. Aí o governo diz “Escuta, de fome você não morre. Mantém seus filhos no colégio e a gente te garante um dinheirinho pra você comer.”
E aí quando alguém aparece oferecendo pra essa pessoa aquele salário de fome que antes era irrecusável, ele pode recusar. E os serviços prestados por pessoas de baixa renda – que antes eram baratos, porque a oferta de mão de obra era alta e o desespero era muito, encarecem uma barbaridade. Tipo: empregadas, pedreiros, porteiros, zeladores, trabalhadores rurais, etc.
E aí as madames não conseguem mais pagar uma mensalista, precisa ser uma diarista, e ela quer cobrar um preço adequado.
As políticas de assistência social (bolsa família, financiamento de faculdade, cotas, etc) fazem com que esses serviços se tornem escassos. Melhorar a vida do pobre “fode” a vida do rico. Bom, a do rico, não, mas a da classe média, sim. A classe média “engrossa”. Perde exclusividade. Pega fila em aeroporto. Pega fila em balada. Pega fila em shopping. Pega fila em restaurante.
E precisa começar a lavar o próprio banheiro.
Enfim.
Quando a América Latina ameaçou deslanchar, os Estados Unidos financiaram golpes em diversos países. Brasil. Chile. Argentina. Isso não foi à toa e não foi “contra o comunismo”, isso foi uma forma de manter essas economias como consumidoras, não concorrentes.
Cuba conseguiu não tomar essa porrada e, como retaliação, amargou um embargo econômico violentíssimo.
Parece coerente que o mesmo governo que derruba presidentes eleitos embargue um país porque ele não é “democrático”?
Os países desenvolvidos mantêm os subdesenvolvidos em sua situação de subdesenvolvimento pela mesma razão que os ricos ficam em vantagem se os pobres continuarem pobres.
É exclusividade que chama. Mas vão dizer que é por um monte de outras razões.
Originalmente publicado aqui.